quinta-feira, 4 de outubro de 2007

BY CLARISSE LISPECTOR






"Tenho várias caras.

Uma é quase bonita, outra é quase
feia.

Sou um o quê?

Um quase
tudo".

"Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levarqualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos pode serperigoso - nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro...há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo.Quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um tourocastrado se transforma em boi. Assim fiquei eu... Para me adaptar ao que erainadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meusgrilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E comisso cortei também a minha força. Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você -respeite sobretudo o que imagina ser ruim em você - não copie uma pessoa ideal,copie você mesma - é esse seu único meio de viver. Juro por Deus que, sehouvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iriapara um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não é ser punida por essamesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudoo que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoralé desistir de si mesma."


( Clarice Lispector - carta enviada à irmã - Paris,1947 )

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